DIA MUNDIAL DO TEATRO
- Por Mauri de Castro
- 27 de mar. de 2015
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O dia mundial do teatro (27 de março) foi criado em 1961, pelo Instituto Internacional do Teatro (órgão ligado à UNESCO), data da inauguração do Teatro das Nações, em Paris.
Neste dia, no mundo inteiro, há uma grande celebração. Atores, diretores, figurinistas, coreógrafos, enfim, todos os homens e mulheres ligados, de alguma forma, ao teatro, celebram, mesmo que seja de forma intimista, com seu próprio grupo ou abrindo as portas do teatro, do seu local de encontro, para, com sua comunidade , comemorar este dia tão importante para os “teatreiros”.
Mas o teatro, desde o seus primórdios já era, por si só, um motivo para se celebrar algo. Algo grandioso como os festejos para Dionísio (o deus do teatro no ocidente) e a celebração da colheita da uva.
Na idade média o teatro era utilizado para celebrar os mistérios e os milagres, através de espetáculos grandiosos sobre a vida dos santos da igreja católica.
Na renascença vamos encontrar o teatro dentro dos palácios, também, por vezes, para celebrar a visita de alguém importante, vindo de longe, algum rei e suas comitivas.
A história dessa arte que nasceu do rito, seja ele religioso, fúnebre, festivo, civil ou de guerra é sempre cheia de motivos para celebração.
Sendo assim, o Ponto de Cultura CIDADE LIVRE, não poderia deixar de, neste dia 27 de março, reunir grande número de pessoas ligadas ao nosso querido teatro, e fazer uma grande festa. Alunos e professores preparam muitas surpresas.
Sobre o Teatro, poderia dizer que os povos primitivos, por meio da dança, costumavam exprimir suas emoções dramatizando situações, especialmente as relacionadas com a luta do homem contra o destino, as forças da natureza, o sexo, vingança, etc. Poderia partir dos acontecimentos sociais, políticos e culturais, e, assim, ressaltar a Olimpíada de 535 a.C., quando Téspis, da cidade de Icária, no Norte da Grécia, estacionando sua carroça numa das praças de Atenas, começou recitar o seu monólogo: Eu sou Dionísio...; poderia, também, abordar a história do teatro, partindo dos autores mais conhecidos, como os clássicos e inesquecíveis autores gregos: Esquilo, autor de Agamenon (peça considerada por Goethe como a obra prima das obras primas); Sófocles, autor de Édipo, o Rei, tida por Aristóteles como a mais perfeita das tragédias gregas; Eurípedes autor de Medéia, que no Brasil virou Gota D’água, pelas mãos de Chico Buarque e Paulo Pontes; Aristófanes, comediógrafo, autor de Lisístrata; Menandro, com suas comédias de costumes e chegar a Roma com Plauto e Terêncio; ainda citar os grandes autores da Inglaterra: Marlowe, Ben Jonson e Shakespeare, o maior dos maiores; França que nos brindou com Molière e Racine; A Espanha com Lope de Veja e Garcia Lorca; para abreviar, e muito, citar Gil Vicente com seus autos, e chegar ao Brasil com Anchieta, enfiando goela abaixo dos nativos a sua catequese cênica. Enfim, poderia encher dezenas de páginas catalogando dramaturgos até chegar em Goiás com Hugo Zorzetti, - considerado em 1985, o melhor comediógrafo vivo no Brasil, por um júri de peso no, hoje, Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto -, e Miguel Jorge, com sua produção de textos a todo vapor.
Mas não é esse o viés que prefiro ao falar de teatro. Interessa-me o ATOR. Interessa-me a viagem deste que, em sua ausência, o teatro não existe. Interessa-me os caminhos percorridos pelo ator na busca de uma melhor presença cênica e enriquecimento da ação dramática. Interessa-me, sobretudo, a história dos que empenharam toda uma vida a serviço da pesquisa da Arte do Ator. Daqueles que, encontrando os meios, deixaram escritos deslindando seus passos. Em ordem cronológica encontra-se Zeami (Japão,século XIV) e os seus chamados Dezesseis Tratados do Teatro Nô. Saltando para o século XVII, na França, encontra-se o filósofo Denis Diderot com o seu provocador compêndio Paradoxo sobre o Comediante; Na primeira metade do século XX estão: Stanislavski, com seu Método ou Sistema, seu grande legado (Análise Ativa e Método das Ações Físicas) e um sem-número de discípulos e seguidores; Meyerhold e sua biomecânica; Bertolt Brecht, com seu Ensemble, conectando teatro, questões sociais e política. Antonin Artaud, o eterno visionário em busca da transcendência; Na segunda metade do século XX: Jerzy Grotowski, com o ator santo e via negativa, no seu Teatro das 13 Filas, na Polônia. Eugênio Barba, cidadão do mundo, que, com sua Antropologia Teatral, seu Odin Teatret e a Escola Internacional (ISTA) transformou o Teatro numa grande e constante celebração com todos os que fazem ou apreciam o Teatro, no mundo.
Mas, ainda não é tudo. Interesso-me, especificamente, pelos diretores que, hoje, fazem a diferença com seus métodos e caminhos. É assim que ressalto o trabalho de Anatoli Vassiliev, na Rússia; Tadashi Suziki, no Japão, Peter Brook, na Inglaterra e França; Ariene Mnouchkine e seu Théâtre de Soleil, em Paris; e o nosso querido Antunes Filho com seu teatro metafísico e seu ator quantum/shivaíta, aprofundando, sobremaneira, a investigação sobre a Arte do Ator. A todos eles, minha gratidão. E como dizia Luis Jouvet: nós somos herdeiros de nós mesmos! Portanto, neste dia internacional do nosso ofício, quem é de teatro comemora fazendo... e quem não é, comemora assistindo.
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